domingo, 8 de maio de 2011

Ao sair deixe a porta aberta, por favor

Não sei porque ela tinha tanto medo de perdê-lo. No dia em que ele foi embora, a garota descobriu uma parte dela que até então era desconhecida. No dia em que ele foi embora, a garota não chorou, não esperneou, não fez escândalo. No dia em que ele resolveu terminar o que talvez nem tivesse começado, a garota simplesmente consentiu, não tentou impedir. Ela sabia que cada vez mais esse dia estava chegando. Por antecedência, assim como um aviso, o seu coração dizia: “Se prepare porque isso vai doer muito. Ele vai te deixar, você vai sofrer, mas tudo vai passar”. 
Então ela esperou, e doeu um pouco, até que esse dia chegasse. Esperou com aquela angústia horrível que sentimos quando sabemos que vai acontecer algo inevitável. E ela se  perguntava sempre, o motivo daquilo. Por que levar a frente aquilo se já não sentiam mais, se já não dava aquele friozinho na barriga que sentiam todo reencontro, por que ele não acabava logo com tudo? O que ela realmente queria era que ele a tratasse logo daquele jeito machista e grosso de ‘não estou nem aí’ que ele, como qualquer outro homem, sabia muito bem fazer. Ou que a fizesse acreditar logo que ele não a merecia.
A garota perguntava-se cem mil vezes o que ele tinha feito com ela. Tentou por cem mil vezes ser forte, louca e homicida e matar todo e qualquer vestígio dele que ainda havia dentro dela. E então, ela perguntava-se: “O que você fez para me desarmar desse jeito?” E também se perguntou onde estava com a cabeça pra deixar que ele a invadisse assim, pra permitir que ele chegasse aonde nenhum outro jamais havia chegado?
E agora que ele foi definitivamente embora, sem falar absolutamente nada, a garota se sentiu aliviada. Aliviada, mas mesmo assim triste. Ela descobriu seu lado que também pode ser cem mil vezes mais calmo e esperançoso, porque é tudo questão de ‘sobrevivência’, de saber se virar. Então, no dia em que ele foi embora, a garota sentiu-se mais forte. Sentiu-se mais forte mesmo sabendo que tudo o que move essa força é um pedido secreto para que um dia ele volte. 
[m.h.]

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